Poderíamos ter alcançado o grupo dos primeiros

O Sport Club Barreiro garantiu, na temporada 2013/14, o quarto lugar do grupo da manutenção na Liga Meo Açores, em igualdade pontual com o Santiago e a dois pontos do segundo, o Guadalupe, embora tenha confirmado a permanência apenas no final da competição. Apesar de tudo, é um desfecho que lhe agrada, tendo em conta os objetivos iniciais da equipa?
Sem dúvida que sim, embora não fosse nosso desejo resolver a questão da permanência apenas na última jornada. Mas o objetivo foi conseguido e o mais importante para o Barreiro passava por garantir a manutenção na Liga Meo Açores.
Ainda assim, penso que a equipa poderia ter alcançado este objetivo de forma menos sofrida e tudo indicava que isso pudesse acontecer, especialmente pelo que fizemos ao longo da primeira fase da prova. Aliás, para ser sincero, o grupo de trabalho acreditou, nessa altura, que poderia lutar por um lugar entre os primeiros quatro. Mas o futebol é assim e acabámos por sofrer até ao fim. Faltou-nos dar esse passo...
 
De forma mais concreta, o que faltou ao Barreiro para conseguir atacar o grupo da frente?
Faltou-nos alguma sorte, sempre necessária, até porque acabámos por pecar um pouco na finalização, pois sempre praticámos bom futebol ao longo da época. Tentámos trabalhar esta vertente, mas não conseguimos... Por outro lado, penso que a ansiedade também se apoderou de alguns jogadores, que revelaram alguma quebra do ponto de vista emocional. A partir de uma certa altura, a equipa ressentiu-se em termos psicológicos. Os jogadores sentiram na pele esse menor fulgor na segunda fase, algo que não aconteceu na temporada anterior, quando partimos para uma parte final muito boa.
 
Neste nível competitivo, o Barreiro tem tido alguns problemas na constituição do grupo de trabalho, sendo quase sempre a última equipa a fechar o plantel. É algo que também ajuda a explicar estas aflições para garantir a permanência?
A verdade é que, para todas as épocas, perdemos sempre três/quatro jogadores e, posteriormente, somos obrigados a aguardar pelas dispensas de atletas de outros clubes, com outro poderio. São dificuldades bem evidentes, mas é esta a nossa realidade. No entanto, mesmo não sendo um clube grande, o Barreiro é um grande clube.
 
Como analisa esta primeira edição da Liga Meo Açores?
Não querendo entrar muito pelas questões polémicas, creio que a prova pecou bastante a nível dos seus ajustamentos. Foi a primeira edição e sentiu-se essa inexperiência em termos organizativos, mas penso que estão reunidas condições para que, esta época, as coisas melhorem. Existiu muita polémica, algumas evitáveis, caso as três Associações de Futebol fossem capazes de um maior diálogo.
Quanto à vertente desportiva, penso que existiu mais competitividade, apesar de o Angrense se ter destacado de forma clara. Ainda assim, a qualidade também baixou um pouco, opinião que me parece unânime. É algo um pouco difícil de explicar, até porque, na minha opinião, o jogador açoriano tem qualidade.
Por outro lado, penso que é errado alguns clubes terem ido buscar jogadores a outras equipas na segunda fase, ferindo um pouco a verdade desportiva da prova. A outro nível, a inclusão, na primeira fase, de trios de arbitragem com um árbitro de outra ilha e dois assistentes da ilha onde se desenrolava o jogo também não me parece correto. Foi algo retificado na segunda fase.
 
MANTER A BASE
 
Que plantel o Barreiro vai apresentar para a próxima temporada, a terceira consecutiva neste patamar?
Nesta altura, conseguimos garantir a grande maioria dos jogadores que fez parte do plantel da época passada. Perdemos apenas três jogadores: Gilberto e Nobita, para o Praiense, e Ruben, para o Lusitânia. Este era o nosso grande objetivo: manter a espinha dorsal da equipa. A permanência desta base é muito importante para nós, pois permite-nos alguma da estabilidade que foi faltando em outras épocas, garantindo-nos continuidade no trabalho que desenvolvemos desde o início da temporada passada. No fundo, os alicerces deste trabalho não tremem.
 
Tornou a existir assédio a jogadores do Barreiro?
Sim. Já saíram três e, mesmo em janeiro, tentaram ir buscar jogadores ao Barreiro.
 
O que espera dos reforços, nomeadamente dos regressos de Lhuka e Ruben, provenientes do Angrense?
Apesar de termos perdido três pedras influentes, penso que, com o plantel da época passada e esses dois reforços que referiu, o grupo oferece todas as garantias. Aliás, são dois jogadores que conheço bastante bem, sei do seu valor e sei aquilo que podem dar à equipa. Durante a pré-época, mais quatro ou cinco atletas podem também vir a fazer parte do plantel. Estou confiante de que vamos formar um bom balneário.
 
A subida do Boavista e a presença do Angrense e Praiense no Campeonato Nacional de Séniores acabam por criar ainda mais dificuldades a um clube como o Barreiro?
Claro que sim. Essas dificuldades aumentam, embora sejam comuns a todos os clubes terceirenses. Somos uma ilha pequena e as dificuldades em recrutar jogadores são evidentes. Penso que, nos próximos anos, o cenário pode ainda piorar. Existe escassez de jogadores, apesar da aposta que alguns clubes fazem na formação. No caso do Barreiro, pecamos um pouco neste aspeto, pois não temos o escalão de juniores. Estamos a trabalhar neste sentido, já existe uma equipa de juvenis e, no futuro, poderemos alargar o nosso campo de recrutamento aos nossos escalões de formação.
 
Quanto a objetivos, quais as principais metas do Barreiro para 2014/15, Passa por fazer melhor do que na temporada anterior? Passa por chegar ao grupo dos primeiros quatro?
Passa, fundamentalmente, por garantir a manutenção o quanto antes, até para não vivermos os sobressaltos da temporada passada. O objetivo nunca será atingir o grupo da frente, mesmo sendo certo que, se isto for possível, faremos tudo para não perder essa oportunidade. Para o Barreiro, a manutenção é sempre o mais importante.
Por outro lado, ainda nos falta conhecer o real valor dos restantes adversários. Penso que, mesmo com a subida do Angrense, a Liga Meo Açores não será mais fraca, por assim dizer, até porque o Ideal será, certamente, uma equipa bastante forte e com metas ambiciosas. A luta pela permanência pode ser bastante interessante, mas também não será uma luta de vida ou de morte. Conhecemos perfeitamente a realidade e as dificuldades do Barreiro. Entramos para cada época sabendo dessas dificuldades e conseguimos algo inédito, que foi a manutenção neste patamar competitivo.
 
O clube sentiu alguma dificuldade para encontrar alguém disponivél para assumir a presidência do Barreiro, algo que no entanto, acabou por ser resolvido internamente. Foi uma situação que o preocupou?
Preocupou a equipa técnica e os próprios jogadores. No entanto, sempre tivemos um apoio muito grande da direção, especialmente do nosso presidente, que nos ofereceu todas as condições de trabalho. Foi um suporte muito forte.
Quanto ao resto, o anterior vice-presidente é, agora, o presidente do Barreiro e o grupo de trabalho compreende este autêntico massacre para estas pessoas que dirigem o clube. São sempre os mesmos, embora encarem a coletividade com um espírito familiar. A manutenção, neste sentido, é uma mais-valia importante.
 
A ALEGRIA DO REGRESSO A CASA
 
O Barreiro voltou a andar com 'a casa às costas' na temporada passada, realizando os jogos caseiros no Municipal de Angra, algo que, para a nova época, já não se coloca. Entende que esta situação poderia ter sido desbloqueada logo na primeira edição da Liga Meo Açores?
Quem manda pode, como se costuma dizer, mesmo sabendo-se que outra equipa jogou num campo que também não reunia as medidas regulamentares. É com muita alegria que voltamos a casa, pois tínhamos muita vontade de voltar a jogar no Porto Judeu. É necessário que as pessoas entendam que, para um clube como o Barreiro, não é fácil enfrentar duas épocas consecutivas a jogar fora de casa, com todos os gastos que isto acarreta.
No entanto, voltar a casa pode ser uma "faca de dois gumes"... Isto porque, por ser um campo pequeno, os nossos adversários, certamente, vão jogar muito fechados, apostando no pontapé na frente. Penso que isto pode trazer algumas dificuldades ao Barreiro, que é uma equipa que gosta de jogar com a bola no pé, apresentando bom futebol. Espero, acima de tudo, que os nossos adeptos e a massa associativa compareçam em força nos nossos jogos, sendo esse suporte sempre importante para a equipa.
 
Está há 11 anos consecutivos no Sport Club Barreiro e já conquistou, enquanto treinador, o respeito e a admiração do futebol Terceirense, especialmente porque tem sido capaz, mesmo com recursos mais modestos, de colocar as suas equipas a praticar futebol de qualidade. Pessoalmente, tem também o objectivo de dar o salto e assumir projetos mais ambiciosos em termos desportivos?
Claro que gostava de chegar mais longe. Estou num clube pequeno, um clube que conheço com rigor e a minha realidade, neste momento, é o Barreiro, onde me sinto bastante bem. O futuro a Deus pertence, mas é óbvio que não enjeitaria essa possibilidade. Aliás, existiram contactos na época passada, mas não acedi porque estava com um projeto entre mãos.